Henrique Avancini: um ciclista em seu tempo.


As conquistas vieram. O assédio da mídia também. Porém, Henrique Avancini não perde o foco e nem tem tempo para ressaca. O fio que conduz sua estratégia e seu preparo mental conecta a linha de chegada com o alinhamento no pelotão da próxima largada. 
Ele não para. Continua. “O seu tempo se concretiza em resultado”, diz.
Falar mais é mera pretensão. Nas perguntas respondidas para o blog do SPRINTA, Avancini expõe o sentimento e o esforço que vem moldando um 2018 incrível. E que ainda não terminou. 

Em um post após o pódio em Val di Sole, você escreveu: "Tudo tem o seu tempo e há tempo para tudo." E logo em seguida veio outro grande resultado em Andorra. Como foi recuperar-se e manter o foco em poucos dias? Deu tempo?


Esse post foi referente ao meu passado, a todo o trabalho que eu fiz, de anos, até alcançar esse pódio. Algo que aparentemente era distante mas estava cada vez mais próximo. Então, quando realmente chega a hora, o seu tempo se concretiza em resultado, é um momento muito especial. Como eu sempre falo: depois de todo domingo vem sempre uma segunda-feira. A gente segue em frente. Óbvio que são momentos que trazem alegria, mas a partir do dia seguinte você tem que descarregar a emoção e seguir em frente. Tem que ir para uma proxima competição. Quanto mais consistente o trabalho, menos você oscila e não afunda nos momentos de queda. É como eu trabalho. Apesar de todo o ano ter sido de grandes marcas, às vezes as coisas são meio que esquecidas rápido. Em março eu venci etapas, estive no pódio geral e liderei a Cape Epic (na África do Sul). Já era uma posição histórica para mim. Depois eu fui crescendo, sempre subindo no ranking mundial. Isso tudo tem a ver com tempo de trabalho, consequência do que vem sendo feito.

Como está a repercussão das suas conquistas no Brasil? 


Tem sido surpreendente. Nunca gostei da parte da fama. Prefiro atender veículos onde posso expor meus princípios e falar da minha modalidade, dos princípios por trás do nosso esporte. Mas, no momento, tenho tido muitos compromissos com a mídia. Os resultados começaram a gerar repercussão fora do ciclismo. A nível esportivo, nacional, são resultados muito expressivos. É novo pra mim. Agora são mais pedidos, tem mais interesse por trás dos acontecimentos. É difícil administrar, pois ainda estou dentro da temporada, não quero parar por aqui. Quero que seja uma boa temporada, que me conecte a um 2019 ainda mais sólido. É um desafio grande administrar (tudo que está acontecendo) para as pessoas que trabalham comigo e também para mim.

E o clima entre a equipe da Cannondale? A união é evidente a cada novo desafio.


Fazer parte da equipe da Cannondale é um dos grandes motivos por eu ter um crescimento ao longo dos anos. O grupo, como staff e atletas, é muito coeso. Compartilha e trabalha junto. Isso traz um conforto especial para o atleta. A gente se alegra quando alguém vai bem e dá apoio quando não vai. São coisas que aumentam o prazer de fazer parte de um grupo. Temos um relacionamento muito aberto em relação a set ups de bike, técnicas de preparação, linhas de percurso e estratégia de prova. Colocamos as coisas na mesa de um jeito muito aberto. No final do dia temos os nossos resultados individuais, óbvio, mas construímos resultados de maneira coletiva. Isso é raro acontecer. Espero que isso seja assim até que eu me aposente. Espero me aposentar na equipe (risos). E viver esse ambiente até a minha última competição como profissional.

Depois das conquistas no verão europeu e o título brasileiro, qual a sua expectativa para a Ultramaratona Brasil Ride?


Eu ainda tenho alguns grandes desafios pela frente no calendário internacional. Quatro grandes provas. Duas copas do mundo e os dois campeonatos mundiais, um de cross country e outro de maratona. Depois volto para o Brasil para um período de recuperação e de preparação para a Brasil Ride. É uma prova que faz parte da minha história. Sou o atual campeão. Quero largar em condições de tentar defender esse título. É o principal objetivo. Pretendo dar uma atenção maior que no ano passado. É o grande desafio do ano pra mim. Me dá muito prazer, respeito muito pela dificuldade. Não entro mais ou menos. Entro empenhando em fazer bem, se não posso ficar pelo caminho. Gostaria muito de brigar pela vitória. Estou um pouco distante pelo que tenho na temporada, mas vou para mirar alto. Esse é o objetivo.

A cada disputa e conquista você deixa claro que existe um trabalho de equipe nos bastidores e tudo é parte de um grande projeto. Como é o trabalho mental para lidar com a responsabilidade de levar para a pista o trabalho dessa equipe e, quando surge uma adversidade, erguer a cabeça e manter o foco no projeto?


No esporte a gente tem sucesso e falhas. O primeiro passo é aceitar isso. É importante para o atleta. Principalmente eu, que tenho pessoas muito próximas trabalhando comigo. A minha fisioterapeuta, que é também mestre em engenharia biomédica, é minha irmã. Tenho relacionamento muito próximo com as pessoas que fazem a minha preparação física e mental. O meu mecânico é um amigo pessoal. Toda vez que entro na pista o trabalho dessas pessoas também é posto a prova. Isso é uma grande responsabilidade. Mas eles entendem a aposta que está envolvida no esporte de alto rendimento. Uma coisa que eu sei, que gero nas pessoas, é a garantia de que vou trabalhar muito. Às vezes vai dar certo. Às vezes não. Mas nunca será por falta de empenho. Quem trabalha comigo fica motivado e aceita esses desafios. As vezes a gente falha, com classe, falha grande. Mas por que estamos trabalhando para ser grande. Por isso que venho conquistando os resultados. Já trabalhamos por eles há algum tempo. Falhamos algumas vezes, mas continuamos trabalhando.